Vape: a droga da moda!

11/07/2022

Entenda a proibição da ANVISA e como proteger seus filhos.

26 de junho foi firmado como o Dia Mundial do Combate às Drogas. A data foi criada pelas Nações Unidas em 1987 por meio da Resolução nº 42/112 e tem por objetivo conscientizar a todos a respeito dos problemas desencadeados pelas drogas aos indivíduos que as consomem e à sociedade. De acordo com dados da OMS (Organização Mundial de Saúde) a dependência química é a doença que mais mata no mundo, perdendo apenas para o câncer e doenças cardíacas.

Segundo o Relatório Mundial sobre Drogas 2021 (1), divulgado em junho de 2021 pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), em 2020:

cerca de 275 milhões de pessoas usaram drogas no mundo. As últimas estimativas globais estimam que cerca de 5,5% da população entre 15 e 64 anos já usou drogas pelo menos uma vez no ano passado;

mais de 36,3 milhões sofreram de transtornos associados ao uso de drogas;

durante os últimos 24 anos, a potência da cannabis aumentou em até 4 vezes em alguns países;

embora mais e mais estudos comprovem cada vez mais quão nociva à saúde é a cannabis, a porcentagem de adolescentes que a percebem como prejudicial caiu até 40% em algumas regiões;

mais de 11 milhões de pessoas injetam drogas, metade das quais vivem com Hepatite C;

os estudos projetam um aumento de 11% no número de pessoas que usam drogas globalmente até 2030;

                O relatório ainda traz a preocupação com o crescente mercado globalizado das drogas, que as torna mais acessíveis e disponíveis em qualquer lugar devido às plataformas de venda online que vêm rapidamente se adaptando dentro da nova era digital e tecnológica em que vivemos.

Aqui no Brasil, segundo o 3º Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas (2) pela População Brasileira, realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) com brasileiros entre 12 e 65 anos e divulgado em agosto de 2019, as cinco drogas mais consumidas foram, na ordem:

1️) Álcool - droga legalizada: mais da metade dos brasileiros já tinha consumido álcool pelo menos uma vez, sendo que 2,3 milhões de pessoas podiam ser considerados alcoólatras. Apesar da venda de álcool para menores de idade ser tipificado como crime, a pesquisa apontou que 34% dos indivíduos menores de 18 anos já consumiram álcool na vida;

2️) Tabaco - droga legalizada: um terço dos brasileiros já tinha fumado cigarro pelo menos uma vez na vida. O consumo habitual ainda atingia 13,6% de toda população, cerca de 20,8 milhões de pessoas. Surge grande preocupação com aumento do consumo dos cigarros eletrônicos ou vapes, que serão tratados neste artigo com mais detalhamento;

3️) Maconha - droga ilícita mais consumida: 7,7% das pessoas já haviam consumido pelo menos uma vez e 3,2% dos brasileiros faziam uso habitual, cerca de 5 milhões de pessoas;

4️) Medicamentos sem prescrição ou em quantidade diferente da prescrita pelo médico: 1% da população se encaixou nisso, número bem acima do padrão se comparado a outros países;

5️) Cocaína - a segunda droga ilícita mais consumida: foi usada por 0,9% dos brasileiros, cerca de 1,3 milhão pessoas.

Diante de todos esses dados, é preciso tratar do assunto drogas com ainda mais seriedade, principalmente se pesarmos em nossos adolescentes e jovens.

A adolescência é uma época de experimentação natural que leva ao aparecimento de vários comportamentos de risco e entre eles, uso de substâncias psicoativas como consumo experimental e recreativo. Álcool, tabaco, cigarros eletrônicos ou vapes e maconha acabam sendo a porta de entrada da dependência química para a maioria dos jovens.

O cigarro eletrônico, proibido no Brasil desde 2009 pela ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária e que nesta semana manteve a proibição em votação unânime (5), é acessível a crianças e adolescentes em vários países e a propaganda na internet pode estimular o consumo e permitir que os menores de idade tenham acesso ao produto. Os especialistas brasileiros das classes médica e científica foram unânimes em destacar os prejuízos à saúde causados pelo vaping – como é chamado o hábito de fumar esse tipo de cigarro.

Também conhecidos por vaporizadores, pods, e-cigarettes, e-pipes, e-ciggys, e-cigs, e-cigarro ou vapes, são operados por uma bateria que aquecem um líquido e produz o aerossol que o usuário inala.

Esse líquido é composto por nicotina (há poucos sem), THC (principal componente psicoativo da maconha), propileno glicol (glicerol), aromas e 7000 variações de sabores, além de substâncias como estanho, chumbo, níquel, crômio, nitrosaminas e compostos fenólicos que podem ser cancerígenos.

A Sociedade Brasileira de Pediatria se posiciona (3) e aponta, em documento científico (4), os efeitos nocivos do Vaping. E segundo Stella Martins, especialista da área de Pneumologia do Hospital das Clínicas da USP, vapes promovem 42% de chance a mais de infarto, possuem a supernicotina (o sal de nicotina, muito mais forte que a nicotina comum), facilitam a formação de trombos e os aditivos lesionam o coração.

Nos EUA, um estudo publicado em maio de 2022 no periódico Pediatrics (6) mostrou que mais de três quartos dos adolescentes de 14 a 17 anos fumaram vapes todos os dias em 2019.

Aqui no Brasil, o Relatório Covitel de abril de 2022 (7) evidenciou que um a cada cinco jovens de 18 a 24 anos usa vapes, sem dados oficiais para menores de 18 anos.

Mesmo sendo a comercialização de vapes proibida em nosso país, percebemos que seu consumo vem aumentando vertiginosamente. O que é possível fazer, então, para protegermos nossos adolescentes e jovens?

  • Primeiro: prevenir, educar, informar. Ofereça informações corretas e realistas sobre as drogas (apresente-as como substâncias capazes de induzir alterações no organismo). Tenham conversas abertas e construtivas sobre as diferentes drogas, principalmente as consideradas “portas de entrada” como álcool, tabaco, vapes e maconha. Trabalhem essas informações com o objetivo de criar comportamentos de prevenção e autocuidado. Apenas um vínculo de confiança permite que os protejamos, e esse vínculo muda na pré-adolescência. Precisamos estar junto deles de verdade, conectados com conversa aberta, rotina saudável, dividindo nossas experiências com eles;
  • Observe, acompanhe, saiba identificar os sinais: cheiro adocicado nas roupas; aparelhos diferentes (alguns vapes parecem pen drives); tosse, falta de ar, secreção respiratória ou pigarreio; resfriado ou gripe frequentes, piora de doenças como asma e rinite;
  • E se meu filho já for usuário? Converse sempre e acolha sem julgar. Peça ajuda aos profissionais de saúde (médicos, psicólogos) e aos coordenadores pedagógicos das escolas. Una forças com os outros pais de amigos também usuários, mas com amor.

Drogas não são “coisa de bandido ou marginal”, elas estão em todas as classes sociais, em todos os lugares, desde os primórdios da humanidade. E todos nós temos necessidade ou vontade de nos sentirmos bem, em êxtase, ou de fugirmos de nossos problemas ou esquecermos deles um pouco.

Porém, o caminho das drogas, seja uma dose de bebida alcoólica ao final de cada dia para desestressar, seja um cigarro ou vape para relaxar, seja um baseado para alterar a consciência e se sentir melhor, trará sempre prejuízos à nossa saúde. Qualquer vício nos descaracteriza. Deixamos de ser nós mesmos para sermos apenas usuários.

Existem formas saudáveis para regularizarmos nossas emoções com liberação de endorfina, por exemplo: relacionamentos significativos, contato íntimo saudável e satisfatório, esportes em geral ou atividades que movimentem nosso corpo, contato com a natureza, as artes em geral, atividades de meditação, oração ou contemplação, atividades criativas como cozinhar, comer comida que gostamos, gargalhar, relembrar boas memórias, fazer planos para o futuro e ajudar as outras pessoas.

Mais importante que tudo: seja exemplo do não uso de drogas e observe seu filho. Se perceber que ele está usando algum tipo de substância, acolha-o e ofereça suporte. Estudos mostram que há possível predisposição hereditária à dependência química, tanto no caso de drogas mais pesadas, como o crack, até as mais sociáveis, como o álcool, o que as replica na família.

A prevenção é sempre o melhor remédio, então compartilhe este artigo com outros pais!

Informação, prevenção e ação com amor, eis nossas armas.

 

Até a próxima!

Cuide-se bem, sempre!

 

Carina Roma é Psicóloga Clínica, Neuropsicóloga e Especialista em Dependências Tecnológicas. Atua há 16 anos como Psicoterapeuta de jovens e adultos e Orientadora de Pais e Educadores. Conta com mais de 10 mil horas de atendimento a clientes de mais de 10 países. É casada há mais de vinte anos e tem três filhos, dois deles biológicos que hoje são adolescentes – Artur e Henrique - e uma do coração, na verdade sua irmã Natália que tem Síndrome de Down, mas que é considerada como filha querida desde que passou aos seus cuidados. Seu principal foco de trabalho é ajudar a melhorar a saúde mental e emocional das pessoas na nova era digital.

 

  1. https://wdr.unodc.org/
  2. https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/34614
  3. https://www.sbp.com.br/especiais/pediatria-para-familias/adolescencia/narguile-e-cigarro-eletronico-modismo-entre-adolescentes/
  4. https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/20531e-DocCient_-_DispEletr_entrega_nicotina_e-cigs.pdf
  5. https://g1.globo.com/saude/noticia/2022/07/06/anvisa-mantem-proibicao-do-cigarro-eletronico-e-defende-fiscalizacao-do-comercio-ilegal-entenda-regras.ghtml
  6. https://publications.aap.org/pediatrics/article/doi/10.1542/peds.2021-055379/188151?autologincheck=redirected
  7. http://observatoriodaaps.com.br/covitel/

 

Foto Dial.News