Riscos do consumo de pornografia por crianças e adolescentes e como evitar.

22/07/2022

1 em cada 10 visitantes de sites pornográficos tem menos de 10 anos de idade!

Crianças e adolescentes têm cada vez mais fácil acesso a conteúdo pornográfico, na maioria das vezes por meio de páginas na internet, redes sociais e plataformas de streaming, tudo acessível a um clique por meio de seus smartphones, tablets, computadores ou televisão.

Segundo uma pesquisa da empresa de segurança em tecnologia Bitdefender de 2018:

- 1 em cada 10 visitantes de sites pornográficos tem menos de 10 anos;

- crianças com menos de 10 anos representam 22% do consumo de pornografia online entre menores de 18 anos;

- os sites mais visitados por crianças menores de 10 anos incluem grandes sites pornográficos.

Esses são dados estarrecedores!

Vivemos a popularização das cenas eróticas. Então, o que antes era considerada pornografia leve hoje nem mais é considerado pornográfico, e o que já era considerado pornografia tem atualmente uma tendência perigosa à violência e ao domínio sobre o outro.

Mesmo para adultos, a pornografia influencia na plasticidade cerebral de forma a construir novos padrões cerebrais para o prazer sexual. Imagine para as crianças! É por isso a exposição ao material pornográfico na infância pode gerar consequências para toda a vida.

Durante o consumo da pornografia, o cérebro entra em excitação mental e fica muito mais vulnerável às imagens, gerando mecanismos de recompensa fácil e viciante. Apesar de a pessoa sentir repugnância a certas práticas e conteúdo de início, passa a se acostumar com o tempo e procurar doses cada vez mais fortes para alcançar os mesmos resultados, assim como com as drogas. Inclusive, o consumo pornográfico tem sido associado ao desgaste do córtex pré-frontal, a parte do cérebro responsável pela função executiva, que inclui a moralidade, a força de vontade e o controle de impulsos.

A consequência desse consumo frequente, geralmente, é a perda do prazer nas relações sexuais reais e sadias, além do desenvolvimento de transtornos sexuais a longo prazo, por não ativarem com a mesma intensidade os mecanismos de liberação neuroquímica de prazer. O cérebro responde à estimulação sexual liberando dopamina, um neurotransmissor associado principalmente à antecipação de recompensas. No cérebro adoecido, em vez de se dirigir ao parceiro ou parceira para obter uma gratificação sexual, os consumidores habituais de pornografia recorrem ao seu celular ou computador quando o desejo bate à porta. Além disso, as explosões de prazer e recompensa, quando são antinaturais, geram níveis altos e antinaturais de adaptação no cérebro.

Os impulsos humanos são controláveis se houver convicções firmes e um exercício constante para ser capaz de dizer “não” ao que pode causar dano. É isso que precisamos ensinar às nossas crianças e adolescentes para fortalecê-los.

Aplicativos de controle parental ajudam, mas não educam. Lembre-se de que, a princípio, as crianças não vão procurar pornografia. Isso vem até elas e, se elas clicarem uma vez apenas, os algoritmos passarão a ofertar cada vez mais vídeos com esses conteúdos a elas.

Quando se trata de adolescentes, procurar algo transgressor ou que os diferenciem dos pais faz parte. Porém, temos que levar em conta que a imitação tem forte papel na construção da identidade pessoa. Então, efeitos como reprodução de comportamentos erotizados ou conduta violenta podem se cristalizar na vida do jovem e causar muitos danos.

Nossos filhos precisam de proteção, mas também precisam ser ensinados sobre como e por que se protegerem de imagens sexuais disseminadas e destrutivas. E não há nenhum software para isso, essa responsabilidade é nossa.

Como, então, ensiná-los?

  1. Responda às perguntas e dúvidas dos filhos com tranquilidade ou os chame para ter várias conversas durantes a infância e adolescência: uma educação sexual adequada e bem dada, como já trabalhamos aqui em artigos anteriores, é a base. Acesse os links ao final para se informar sobre como fazer uma adequada educação sexual, levando em conta as faixas etárias de crianças e adolescentes.

 

  1. Para prevenir, não há momento certo: cada pai e mãe tem que achar ou criar brechas para explicar o que é pornografia, de acordo com a idade do filho, e de como faz mal para o cérebro. Importante diferenciar a eles sexo de pornografia:

Sexo = é um ato natural, uma interação prazerosa e desejada entre duas pessoas e que faz parte da vida. É a energia criadora e vital em ação, pois é através dela que outra vida pode ser originada. Quando o sexo é vivido com respeito, amor e responsabilidade, traz bem-estar e felicidade a ambos envolvidos no relacionamento. A saúde sexual deve ser muito bem cuidada, pois nos dá bem-estar físico, emocional, mental e social, diminui o estresse e até fortalece a imunidade.

Pornografia = são materiais visuais ou audiovisuais produzidos (textos, imagens, vídeos) e que contêm apresentação explícita de órgãos ou atividades sexuais com o objetivo de estimular a excitação (vontade) sexual. Ela não mostra o sexo ou o relacionamento entre duas pessoas da forma como realmente acontece na vida real e estabelece padrões não saudáveis e distorcidos, o que vicia (como as drogas) e impede que a pessoa viciada tenha uma vida sexual real saudável, podendo gerar muitos transtornos sexuais e psiquiátricos como ansiedade e depressão.

 

  1. Dê uma boa educação digital para seus filhos e sobre os perigos da internet: seja honesto com eles sobre o tipo de coisas que podem encontrar online, por que isso é tão ruim para eles e por que você está tentando protegê-los de ver aquilo. São necessárias várias conversas contínuas onde seus filhos se sintam livres para fazer perguntas e vice-versa. E sigam as indicações etárias indicativas, elas existem por esse motivo.

 

  1. Se seu filho já vem acessando pornografia: fique calmo e diga que a curiosidade é natural. Pergunte se entendeu o que viu e o escute sem julgar. Explique todos os passos acima e que aquele teatro filmado não acontece daquele jeito na vida real. E se sentir que precisa de ajuda, já que a pornografia vicia, busque ajuda profissional.

 

Talvez a dica mais importante seja: não deixe seus filhos sozinhos com seus aparelhos eletrônicos. Se quiserem acessar conteúdos na internet, que seja ao seu lado ou de outro adulto confiável: coloque na TV da sala, ou no caso de laptops, tablets ou celulares, deixe que usem apenas pertinho de vocês, nada de ficar trancado no quarto. E evite que eles usem fones de ouvido, para que você escute também. Limite o tempo de uso e controle os conteúdos. Saiba o que seus filhos gostam de ver, quais os canais, quem seguem, quais seus personagens nos jogos.

No caso de adolescentes, é importante eles começarem a ter certa privacidade, mas ainda assim precisamos: ter a senha dos celulares deles por segurança, dar uma olhadinha respeitosa de vez em quando sem avisá-los antes mas com eles presentes e saber com quem conversam e o teor das interações.

Ufa! Não é fácil, mas é necessário! Até completarem 18 anos, responderemos por eles e temos a obrigação de protegê-los, ensiná-los e educá-los na nova era digital.

 

Informação, prevenção e ação com amor, eis nossas armas.

Até a próxima!

Cuide-se bem, sempre!

 

Carina Roma é Psicóloga Clínica, Neuropsicóloga e Especialista em Dependências Tecnológicas. Atua há 16 anos como Psicoterapeuta de jovens e adultos e Orientadora de Pais e Educadores. Conta com mais de 10 mil horas de atendimento a clientes de mais de 10 países. É casada há mais de vinte anos e tem três filhos, dois deles biológicos que hoje são adolescentes – Artur e Henrique - e uma do coração, na verdade sua irmã Natália que tem Síndrome de Down, mas que é considerada como filha querida desde que passou aos seus cuidados. Seu principal foco de trabalho é ajudar a melhorar a saúde mental e emocional das pessoas na nova era digital.

 

Clique aqui para acessar os artigos anteriores:

  1. Como falar com seus filhos sobre Educação Sexual: dicas para cada faixa etária até os 12 anos de idade.
  1. Como prover uma adequada Educação Sexual aos seus filhos adolescentes na era digital.

Foto: Thinkstock