Quanto mais telas, melhor? Sim e não! Entenda.

01/02/2023

Vamos analisar o uso de dois ou mais monitores (ou de telas estendidas) nas atividades laborais.

Num mundo cada vez mais tecnológico, já era de se esperar o aumento de tempo de uso de telas, assim como o aumento da quantidade delas. Poder visualizar várias informações ao mesmo tempo no trabalho, por exemplo, pode sim dar ótimos resultados e ajudar na performance, dependendo do propósito e da forma como os equipamentos são usados. Além disso, uma boa dose de disciplina é essencial para que haja ganho produtividade com mais telas, e não o contrário.

Vamos analisar, num primeiro momento, o uso de dois ou mais monitores (ou de telas estendidas) nas atividades laborais. Segundo alguns especialistas em ciências da computação e tecnologia da informação, esse uso só se justifica se for útil a três propósitos principais: obter mais dados ao mesmo tempo para consulta; comparar informações; conferir e testar resultados em tempo real sem ter que deixar a tela principal. Ainda assim, é preciso definir qual será a tela principal e evitar sair dela, deixando para movimentar a outra ou as demais conforme a necessidade e seguindo um padrão previamente estabelecido.

Um estudo de 2017, conduzido por Jon Peddie Research (JPR)(1), comprovou que usuários de dois monitores têm um aumento médio de produtividade esperado de 42%. Esses profissionais estudados pertenciam às seguintes áreas: gerentes de produto, desenvolvimento e marketing, fornecedores de software e hardware, integradores de sistemas, profissionais da informação, analistas de investimento, gerentes e executivos de design, engenheiros, designers, arquitetos, analistas de pesquisa, usuários de simulação e jogadores de jogos, entre outros.

Isso não significa que outras profissões não se beneficiem do uso de mais de um monitor. Hoje em dia, há muitos estudantes, professores, escritores ou mesmo profissionais da área da saúde no geral, por exemplo, conseguindo ótimos resultados e rendendo melhor com o conceito “multitela”. Porém, é importante salientar que nem todo uso de mais de uma tela será benéfico.

Por exemplo: se os monitores não estiverem conjugados na mesma atividade e simplesmente servirem para mostrar assuntos aleatórios e que não têm interação entre si, é muito mais provável haver perda de funcionalidade e produtividade, aumento da quantidade de erros e piora de performance no geral. É importante entendermos que o grande benefício está em poder usar mais de uma tela ou monitor para desempenhar a MESMA atividade ou para fazê-lo de forma mais completa ou menos trabalhosa, e não querer fazer mais de uma atividade ao mesmo tempo, cada uma em uma tela ou monitor diferente.

Há atividades específicas que exigem o multitasking (ou multitarefa), uma atenção simultânea a vários fatores, como alguns postos ligados a investimentos, controle de tráfego aéreo, entre muitos outros. Porém, para esses trabalhos, são eleitas pessoas que preenchem perfis específicos, que conseguem dar conta de várias atividades ao mesmo tempo com qualidade e com menos gasto de energia que a grande maioria dos indivíduos teria nas mesmas condições. Ou seja, não é para qualquer um, e mesmo assim precisa de supervisão constante, carga de trabalho reduzida e tempo de atividade limitado, ou seja, também não pode ser para a vida toda.

Dessa forma, usar mais de uma tela ou monitor para tentar se multitarefa sem necessidade só causará perda de performance, sobrecarga cognitiva com enfraquecimento dos processos atencionais e de memória, exaustão emocional com diminuição da satisfação e da tranquilidade e, pior que tudo, mais chance de desenvolvimento de transtornos mentais como ansiedade e depressão, o que comprovo semanalmente em meu trabalho clínico no consultório.

Então, pense bem e escolha focar e ficar com uma telinha só da próxima vez em que estiver, por exemplo, ao mesmo tempo: assistindo a uma série na TV e checando suas redes sociais no celular; assistindo a uma aula da pós e escrevendo um relatório do trabalho; participando de uma reunião do trabalho e respondendo e-mails de outros assuntos; conversando com “contatinhos” e estudando para uma prova; analisando números e assistindo vídeos engraçados; escolhendo o que vai pedir para o jantar e corrigindo os erros de sua tese; vendo vídeos motivacionais e respondendo às suas mensagens, e por aí vai.

E cuidado: nossas crianças e adolescentes nos copiam! Então, além de não deixá-los se sobrecarregarem desnecessariamente com o uso múltiplo de telas, devemos lhes ensinar pelo nosso exemplo!

Analise-se e só use mais de uma tela se for agregar de verdade à sua atividade fim e se não for te sobrecarregar de maneira alguma.
Do contrário, menos é sempre mais!

Até a próxima!

Cuide-se bem, sempre!

 

Carina Roma é Psicóloga Clínica, Neuropsicóloga e Especialista em Dependências Tecnológicas. Atua há 16 anos como Psicoterapeuta de jovens e adultos e Orientadora de Pais e Educadores. Conta com mais de 10 mil horas de atendimento a clientes de mais de 10 países. É casada há mais de vinte anos e tem três filhos, dois deles biológicos que hoje são adolescentes – Artur e Henrique - e uma do coração, na verdade sua irmã Natália que tem Síndrome de Down, mas que é considerada como filha querida desde que passou aos seus cuidados. Seu principal foco de trabalho é ajudar a melhorar a saúde mental e emocional das pessoas na nova era digital.

 

  1. https://www.globenewswire.com/en/news-release/2017/08/17/1087072/0/en/Jon-Peddie-Research-Multiple-Displays-can-Increase-Productivity-by-42.html

Foto de Cafer Mert Ceyhan na Unsplash