Os desafios perigosos da internet: como proteger seus filhos deles.

18/10/2022

Tudo começa com uma simples curiosidade e uma necessidade de pertencimento a uma prática ou a um grupo, mas pode terminar com sequelas irreversíveis ou até mesmo a morte, bem debaixo de nossos olhos.

Você já deve ter ouvido falar da “brincadeira do desmaio”. Esse tipo de prática existe há muito tempo, mas desde o advento da internet tem sido mais facilmente divulgada e causado muitas mortes de crianças e adolescente, inclusive aqui no Brasil.

Essas práticas e desafios consistem em cortar a passagem de ar para o cérebro, provocando o desmaio, e têm sido erroneamente chamadas de brincadeiras junto a outros jogos nocivos, incentivados em vídeos na internet e propostos entre colegas e amigos, pois trata-se de comportamentos perigosos à vida de nossas crianças e jovens. Começam com “quem prende a respiração por mais tempo”, mas podem evoluir para técnicas de sufocamento com substâncias e aerossóis ou que objetivem o desmaio. As práticas de estrangulação (em torno do pescoço) podem ser feitas com ajuda de outra pessoa ou com objetos, como cintos ou cordas. As de compressão do tórax contam com a ajuda de terceiros.

Segundo as informações e estatísticas do Instituto DimiCuida, que foi fundado em 2014 pelo pai de Dimitri (de 16 anos) que perdeu a vida para esse jogo de sufocação, esse tipo de “brincadeira” é praticado por crianças e jovens entre 4 e 20 anos, sem distinção de raça, religião, classe social ou nacionalidade que objetivam experimentar, desafiar e pertencer a grupos em busca de recompensa subjetiva, ainda que não tenham perfil de engajamento em práticas suicidas. Esse instituto, que tem o objetivo de disseminar informações e pesquisas para proteger as crianças e jovens dessas práticas, apresenta até um mapa nacional com os casos informais no Brasil, coletados através de relatos de famílias ou noticiados em jornais. Números muito, muito tristes.

Então, tudo começa com uma simples curiosidade e uma necessidade de pertencimento a uma prática ou a um grupo, mas pode terminar com sequelas irreversíveis ou até mesmo a morte. Durante a falta de oxigênio no cérebro ou anóxia cerebral, os neurônios vão morrendo e pode haver danos cerebrais irreversíveis, estado de coma ou morte cerebral. A gravidade da lesão estará ligada ao tempo e à região que ficou sem oxigênio no cérebro, podendo ocorrer paralisia dos membros, crises epilépticas, diminuição da visão, surdez, perda de memória, distúrbios do sono, dores de cabeça, deficiência intelectual e parada cardíaca. Como o sistema nervoso central dificilmente se regenera, as lesões poderão ser permanentes.

A adolescência e suas transformações físicas e psicológicas favorecem o interesse por atividades de risco, devido à falta de maturação cerebral. É por isso que a vulnerabilidade também está presente no comportamento adolescente, geralmente rebelde, conflituoso e impulsivo. De 12 até 24 anos de idade, há um aumento da produção do neurotransmissor dopamina no cérebro, mais conhecido como a molécula do prazer, o que predispõe o jovem a arriscar mais, a não levar em conta consequências de médio ou longo prazo, a ser mais curioso e aberto a novas experimentações, a ficar entusiasmado de forma exagerada e a querer se provar e pertencer a grupos.

Por isso, nós, pais e educadores, temos que estar atentos e tomar algumas ações:

  1. Buscarmos nos informar da melhor forma possível sobre esse tipo de brincadeira ou desafio, mas sem fazermos alarde deles aos nossos filhos. Temos que perguntar o que eles sabem com muito cuidado, e não darmos a eles informações sobre esse tipo de brincadeira (inclusive, tentar não citar seus nomes) e de como são realizadas (para não gerarmos mais curiosidade ainda).
  2. Estarmos ligados nas atividades de nossos filhos na internet. Além de colocar regras para o tempo de uso de eletrônicos e telas em casa, precisamos ter suas senhas e monitorar o conteúdo, o que eles realmente acessam. Dicas: não deixá-los sozinhos em seus quartos com seus smartphones ou tablets; acompanhar o que fazem nas redes sociais (para os que já têm idade para isso); só permitir que assistam a vídeos da internet na TV da casa e sem fone de ouvido, para acompanharmos o conteúdo; colocar aplicativos de controle parental com restrição de conteúdo, se for necessário.
  3. Ficarmos atentos a sinais físicos ou comportamentais de nossos filhos que possam denunciar algo de errado, como: marcas no pescoço, marcas vermelhas ao redor dos olhos ou do rosto, zumbido no ouvido, problemas oculares, dores de cabeça ou enxaquecas, olhos vermelhos, moleza ou desorientação, uso de roupas que escondam o pescoço, irritabilidade excessiva, passar muito tempo trancado no quarto ou banheiro, conversas ou perguntas que mencionam consequências desse ou outros desafios; ou mesmo encontrar no ambiente ou na mochila cintos, lenços, echarpes, faixas de artes marciais, coleiras de cachorro, cordas, cachecóis, qualquer objeto que facilite a sufocação.
  4. E mais importante de tudo: termos e mantermos um bom vínculo com nossos filhos, baseado na confiança, a ponto de podermos acessar seus sentimentos mais profundos e mantermos sempre diálogos abertos e construtivos, inclusive sobre seus interesses digitais e conteúdos consumidos.

Os maiores índices de morte provêm de crianças e jovens curiosos que praticam a brincadeira em casa, trancados sem seus quartos, sem a consciência das possíveis sequelas da prática e do risco de morte, incentivados por amigos da escola ou por vídeos da internet.

Então, mais do que em qualquer momento da história, precisamos estar atentos, bem-informados, próximos aos nossos filhos e com monitoramento constante e eficiente. A responsabilidade que temos de cuidar de nossos filhos também se estende ao mundo virtual, isso faz parte da nova Cidadania Digital.

Para se aprofundar, conheça a fonte dessa matéria, o Instituto DimiCuida: http://www.institutodimicuida.org.br/

Até a próxima!

Cuide-se bem, sempre!

Carina Roma é Psicóloga Clínica, Neuropsicóloga e Especialista em Dependências Tecnológicas. Atua há 16 anos como Psicoterapeuta de jovens e adultos e Orientadora de Pais e Educadores. Conta com mais de 10 mil horas de atendimento a clientes de mais de 10 países. É casada há mais de vinte anos e tem três filhos, dois deles biológicos que hoje são adolescentes – Artur e Henrique - e uma do coração, na verdade sua irmã Natália que tem Síndrome de Down, mas que é considerada como filha querida desde que passou aos seus cuidados. Seu principal foco de trabalho é ajudar a melhorar a saúde mental e emocional das pessoas na nova era digital.