Entre a passividade e a agressividade: assertividade na prática!

08/09/2022

Siga os passos e treine sua postura comunicativa assertiva em cada interação que tiver, seja no trabalho ou nas relações pessoais.

Imagine-se nas seguintes situações:

  1. Alguém desmerece seu trabalho em público ou mesmo desconsidera sua opinião em frente a outras pessoas. Você se sente mal, mas não consegue reagir ou responder. Provavelmente, um misto de frustração, impotência, insignificância e vergonha tome conta de você, não é mesmo?
  2. Você acaba se excedendo em determinada situação, sendo austero, rígido, impositivo, cínico ou buscando satisfazer seus próprios interesses de forma precipitada. Consegue o que quer, mas também sente logo depois um certo incômodo, um peso na consciência por mais que tente se justificar internamente de que apenas estava se defendendo, e termina por querer esquecer do ocorrido.

Cada um de nós tem tendências comunicativas diferentes, que expressam nossos mundos internos. Ou vamos mais para a passividade, como no caso 1, ou caímos mais facilmente na agressividade, como no exemplo 2.

                Nenhuma dessas estratégias nos traz bem-estar. Se somos passivos, temos negados nossos direitos, sentimos nosso território ser invadido sem permissão e prometemos que isso não acontecerá da próxima vez, cheios de raiva. Se somos agressivos, a princípio imaginamos nosso território defendido e tentamos justificar nosso comportamento na tentativa de acalmar nossa consciência, mas no fundo o que cresce em nós é a culpa.

Ambas as situações desencadeiam a ansiedade, não ganhamos em nenhuma delas e as pessoas à nossa volta também não. A assertividade é a única postura capaz de desenvolver relações maduras, respeitosas e produtivas, tanto na vida pessoal quanto na profissional.

Esse termo “assertividade” se origina da palavra asserção, que vem do latim afirmare e significa afirmar, declarar com firmeza. Assertividade é um comportamento direto, usa economia de palavras e foge de rodeios, desculpas, justificativas, embora deva abusar da empatia. Também usa de honestidade, pois não admite manipulações. E precisa muito da flexibilidade e do julgamento racional. Está baseado no autoconhecimento, na autoestima equilibrada, na clareza de objetivos, na positividade e na proatividade. E gera o melhor resultado de todos: a credibilidade!

A credibilidade só se constrói através da confiança, que é baseada na segurança que as pessoas sentem umas nas outras. Sem confiança, nenhum relacionamento saudável é possível. E como estabelecemos a confiança? Através de um diálogo e de uma postura respeitosos e eficazes.

Então, se ser assertivo é tão bom, por que temos que nos esforçar e treinar para conseguirmos atingir esse nível e sair dos extremos da passividade e da agressividade, que nos fazem tão mal?

Segundo Vera Martins em seu livro “Seja Assertivo!”, a principal causa para a falta da assertividade é o medo da perda. Pode ser medo de perder uma pessoa, um trabalho, uma reputação, uma chance, um negócio. O medo gera insegurança , a insegurança gera o medo de arriscar uma postura nova, que gera o sentimento de impotência, de incapacidade, e que culmina na ansiedade e na reprodução dos comportamentos já arraigados em nossa conduta.

Também fomos educados, em nosso processo de socialização, a sermos passivos ou agressivos. Veja alguns exemplos, passados de pais para filhos: “Não seja mal-educado e diga que gostou do presente mesmo que não tenha gostado”; “Se for sua tia ao telefone, diga que não estou, não quero ter que discutir com ela”; “Cale a boa e escute”; “Bata antes de apanhar”; “Não discuta comigo”; “Não pode fazer esse tipo de pergunta”; “Você só fala bobagem”.

Porém, sempre há tempo! Seguem algumas dicas para você começar a identificar e treinar sua postura comunicativa assertiva em cada interação que tiver:

  • Aprenda a se tornar um bom ouvinte! Essa não poderia deixar de ser a primeira dica. Sem escutarmos de verdade, com todo nosso ser - o que chamamos de escuta ativa, não é possível estabelecer uma relação de respeito com ninguém;
  • Conheça-se! Sua tendência é a de ser mais passivo ou mais agressivo em suas comunicações? O que você sente depois? Quais suas facilidades e dificuldades nessa área? Liste-as;
  • Regule a autoestima! Você gostaria de sua postura ou acreditaria em você se te ouvisse falando? Gosta da forma como se comunica? Já se gravou ou filmou alguma vez para se ver e ouvir? Se tem algo que acha que poderia melhorar, trabalhe nisso. Estar de bem com sua comunicação, com sua autoestima, é de vital importância;
  • Aprenda a “ler” as reações das pessoas em relação a você e seja flexível! Preste muita atenção nisso. Quando você começa a falar, as pessoas te olham nos olhos, têm paciência de te escutar até o fim, fazem gestos afirmativos com a cabeça, ficam relaxadas? Ou elas evitam olhar para você, acabam te interrompendo muitas vezes, iniciam conversas paralelas, ficam tensas ou fogem? Você tem a flexibilidade de interromper sua fala se percebe que há algo errado, ou continua mesmo assim?
  • Seja direto! Você vai ao ponto ou faz rodeios? Imagine um alvo à sua frente, com um centro bem definido e o resto bem incerto à volta. Por onde você começar a falar? Acerta de cara o centro e diz toda a ideia em uma frase, ou começa pelas tateando bordas? Por quê? Liste os motivos.
  • Seja positivo! Foque mais na metade do copo cheia. Mesmo ao falar sobre assuntos difíceis ou problemas, é possível não cair na negatividade. As pessoas te acham pessimista? Elas te veem como alguém bom em resolver situações ou como aquele que só reclama ou causa encrencas?
  • Aproveite o timing! Tão importante quanto falar corretamente é saber o melhor momento de dizer. A proatividade pode ajudar nisso. Se você é muito impulsivo, seja proativo ao morder a língua e escrever só para você o que pretende dizer depois. Se você quase nunca tem coragem de falar, treine antes e seja proativo para criar uma oportunidade de dizê-lo.

Com essas dicas, já é possível começar a construir comunicações mais assertivas e, com isso, aumentar a credibilidade.

E lembre-se: assim como nos fizeram falta esses ensinamentos em nossa infância, isso também fará falta à vida de nossas crianças e jovens se nós não agirmos. Não é só por nós, mas também por eles. Dentro de nossas responsabilidades como pais, cuidadores, educadores, melhorar nosso processo comunicativo ajudará a todos, pois nosso exemplo é o que mais educa.

Espero que tenham gostado e que possam se desenvolver cada vez mais.

Deixe aqui seus comentários!

Até a próxima!

Cuide-se bem, sempre!

 

Carina Roma é Psicóloga Clínica, Neuropsicóloga e Especialista em Dependências Tecnológicas. Atua há 16 anos como Psicoterapeuta de jovens e adultos e Orientadora de Pais e Educadores. Conta com mais de 10 mil horas de atendimento a clientes de mais de 10 países. É casada há mais de vinte anos e tem três filhos, dois deles biológicos que hoje são adolescentes – Artur e Henrique - e uma do coração, na verdade sua irmã Natália que tem Síndrome de Down, mas que é considerada como filha querida desde que passou aos seus cuidados. Seu principal foco de trabalho é ajudar a melhorar a saúde mental e emocional das pessoas na nova era digital.