Como prover uma adequada Educação Sexual aos seus filhos adolescentes na era digital.

07/06/2022

Seu filho é adolescente e você ainda não conversou sobre Educação Sexual com ele? Saiba como fazer isso para prepará-lo e protegê-lo!

No artigo anterior, abordei como falar sobre educação sexual com crianças e pré-adolescentes. Neste, o foco será a adolescência!

É muito importante darmos as corretas informações aos nossos adolescentes antes que eles iniciem suas vidas sexuais. Segundo dados da PeNSE 2019 - Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (1), realizada sobre a saúde dos adolescentes de 13 a 17 anos de idade que frequentam do 7º ano do Ensino Fundamental até a 3ª série do Ensino Médio das redes pública e privada:

❗ 35,4% dos estudantes de 13 a 17 anos já tiveram relação sexual alguma vez na vida;

❗ 39,9% dos meninos dessa faixa etária já tiveram relação sexual ao menos uma vez, enquanto entre as meninas esse percentual foi de 31,0%;

❗ 36,6% dos adolescentes que já tiveram alguma relação sexual tinham 13 anos de idade ou menos na sua primeira experiência sexual.

A adequada educação sexual promove um estreitamento de laços entre pais e filhos e fortalece os jovens para cuidarem melhor de si em todos os aspectos, desde já e durante toda sua vida adulta! Lembrando que não deve se tratar de apenas uma conversa, mas de várias que devem ocorrer de forma natural, ainda que os pais tenham que chamar seus filhos para iniciarem esse bate-papo, pois a responsabilidade é de quem cuida.

Se você já teve conversas com seu filho adolescente sobre sexualidade, agora é hora de reforçar. Se ainda não falou nada com ele, é vital que o faça agora!

Para saber se você já abordou todos os temas possíveis de educação sexual com seu filho, leia meu artigo anterior (Como falar com seus filhos sobre Educação Sexual – dicas para cada faixa etária até os 12 anos de idade) (2) e acrescente esses próximos passos, alguns deles divulgados pelo Programa Childhook Brasil (3):

Chame seu filho para conversar e pergunte como se sente em relação a estar se tornando um adolescente (ou a já ser um!).

Fale um pouquinho sobre você como adolescente, como se sentiu, e diga que está ali para ajudá-lo nessa nova fase. Se você já vem conversando com seu filho sobre educação sexual, será apenas mais uma conversa e isso é ótimo. Mas, se você chegou até aqui sem ter conversado nada com ele, talvez role algum desconforto a vocês. No entanto, essas conversas precisam acontecer e são os pais que precisam se responsabilizar por isso, afinal de contas não podemos delegar algo tão importante para toda a vida de nossos filhos como sua sexualidade para terceiros ou para a internet, não é mesmo? Então, coragem, chame seu filho e comece!

Dê orientações e fale sobre regras de encontros e namoro.

Nessa idade, a sexualidade se torna mais concreta e pode deixar tanto ele quanto você pouco à vontade para tocar em questões como excitação, desejo e prazer, principalmente se nunca conversaram sobre isso. Mas, é necessário, já que os adolescentes estão começando a vida sexual mais cedo.

Então, converse abertamente com seu filho, mas não passe o limite. É preciso estar próximo, e não querer saber de tudo ou ser como um amigo.

Enquanto essa experiência pode parecer superficial e passageira para os adultos, os adolescentes mergulham de cabeça nas suas primeiras relações e atribuem grandes significados a elas. Vale a pena escutar o que seu filho tem a dizer e demonstrar isso, perguntando o que ele pensa da situação, sugerindo ações e se mostrando aberto para soluções. É importante que os pais tenham uma relação baseada na aceitação e no afeto com os filhos e com o namoro. Essa nova fase deve vir acompanhada das responsabilidades normais da vida, então vale a pena conversar com ele para definir trocas e esclarecer os limites.

Fale tudo sobre reprodução, gravidez e parto.

Converse de forma simples sobre os contraceptivos e como eles funcionam. Fale dos prazeres e dos riscos da atividade sexual, como gravidez e DST’s (doenças sexualmente transmissíveis). Mesmo que seu filho diga que vocês não precisam ter essa conversa, pois ele já sabe de tudo, afirme que é sua responsabilidade e que falará mesmo assim, que esse canal de comunicação entre vocês servirá para aproximá-los por toda a vida também.

Reforce informações de como se manter seguro!

Informe como seu filho podem estabelecer limites pessoais quando conversar ou conhecer pessoas pessoalmente ou pela internet. Reforce que o abuso sexual não necessariamente tem que envolver o toque, que existem várias formas de coação verbal ou digital e que nunca é culpa de quem sofre, que você está ali o tempo todo para ajudar sem julgar e indique de novo todas as formas possíveis para se protegerem no mundo real e no digital. Repita como ele pode reconhecer e evitar situações sociais de risco, online ou presenciais.

Fale abertamente sobre o perigo do crescimento da erotização e do consumo da pornografia, principalmente a digital.

Explique que a exposição prematura à pornografia pode afetar de forma nociva o adolescente em diferentes níveis, provocando desde emoções como nojo, choque e constrangimento até traumas mais severos. Muitas vezes, é exagerada e diferente do sexo normal e isso confunde muito e cria padrões doentios na mente. A pornografia também pode ter um efeito prejudicial nas atitudes das pessoas em relação ao consentimento, à saúde sexual e à autoimagem corporal. Além disso, tende a dificultar relacionamentos sérios e duradouros, deteriorando o desempenho sexual com parceiros reais, podendo culminar em consumo compulsivo, vício e perda do autocontrole.

Pergunte como ele se sente em relação à sua orientação sexual e à sua identidade de gênero.

Escute, compreenda. Não vá contra, apenas acolha. Nenhuma condição humana é errada e nossos filhos são quem eles são. Também são muito comuns confusões nessa fase e uma escuta respeitosa vai reforçar o canal de comunicação entre vocês e vai ajudar seu filho nesse processo de identificar quem é sexualmente, como se sente de verdade, quais seus medos e desejos, como descobrir-se com segurança e respeito a ele próprio e aos outros.

Outra dica que quero deixar aqui a vocês é sobre o uso seguro da internet pelos jovens.

A Internet é uma fonte de inúmeras oportunidades, pois por meio dela é possível estabelecer e manter contato com pessoas e instituições de todo o planeta e obter conhecimento, entre tantas outras atividades. Mas, muitas vezes a Internet também é utilizada para exposição de conteúdos inapropriados, contato com pessoas mal-intencionadas, acesso a julgamentos indevidos, ofensas, preconceito e discriminação, além de publicidade exagerada.

Então, ensine seu filho a interagir com segurança, privacidade e ética no mundo digital!

Ótimas ferramentas para isso:

✅ Movimento Internet Segura (4)

✅ Seja Incrível na Internet (5)

Espero que essas dicas possam te ajudar a criar e manter com seu filho um vínculo de segurança, confiança e abertura para toda a vida, pois é esse vínculo que o ajudará a não se tornar presa fácil de qualquer tipo de viciação vida afora.

Tão importante quanto a conscientização sobre o tema é estar sempre alerta e denunciar qualquer violação dos direitos de crianças e adolescentes.

Em caso de suspeita de abuso sexual infanto-juvenil, Disque 100 ou baixe o aplicativo Proteja Brasil e ajude a proteger meninos e meninas também no ambiente digital.

Até a próxima!

Cuide-se bem, sempre!

Carina Roma é Psicóloga Clínica, Neuropsicóloga e Especialista em Dependências Tecnológicas. Atua há 16 anos como Psicoterapeuta de jovens e adultos e Orientadora de Pais e Educadores. Conta com mais de 10 mil horas de atendimento a clientes de mais de 10 países. É casada há mais de vinte anos e tem três filhos, dois deles biológicos que hoje são adolescentes – Artur e Henrique - e uma do coração, na verdade sua irmã Natália que tem Síndrome de Down, mas que é considerada como filha querida desde que passou aos seus cuidados. Seu principal foco de trabalho é ajudar a melhorar a saúde mental e emocional das pessoas na nova era digital.