Como falar com seus filhos sobre Educação Sexual: dicas para cada faixa etária até os 12 anos de idade

01/06/2022

Veja o passo-a-passo para conversar sobre educação sexual com seus filhos pequenos até 12 anos de idade e, com isso, protegê-los dos abusos sexuais.

Você ainda não falou sobre Educação Sexual com seus filhos ?!?!

Sabe quais são os riscos de não dar uma adequada educação sexual a eles? As consequências podem ser desastrosas, desde o desenvolvimento de preconceitos ou tabus, dificuldade em lidar com sua própria sexualidade, distúrbios sexuais que podem impedi-los de ter uma vida sexual adulta saudável e incapacidade de se defender de abusadores sexuais.

Para a maioria das pessoas, falar sobre sexo com os filhos ainda é bastante complicado. Muitas vezes, as crianças nos pegam de surpresa com perguntas complicadas de responder... Mas, há ótimas formas de introduzir esse importantíssimo assunto no convívio familiar, aos poucos, com tranquilidade e segurança.

A SBP – Sociedade Brasileira de Pediatria sempre se pronuncia sobre a importância da educação sexual como a melhor forma de prevenção ao abuso sexual e para uma vida sexual adulta saudável. O diálogo sobre temas que envolvem sexualidade pode trazer muitos benefícios para a saúde sexual, física e emocional de crianças e adolescentes.

Mas, afinal de contas, o que é a sexualidade? Nada mais é do que a busca pelo bem-estar na relação conosco ou com o outro. Essa busca se dá desde o nascimento e é natural: pelo toque dos pais, pelo modo como a mãe amamenta, o embalar de um colo, como percebe seu corpo, como começa a descobrir o mundo, as cores, os sons. Portanto, nascemos e morremos sexuais, mesmo que nunca pratiquemos sexo na vida. A energia sexual é a energia criativa da vida. Então, precisamos superar o mito de que a educação sexual pode erotizar ou incentivar a iniciação sexual precoce.

Tendo isso posto, podemos dizer que educação sexual não se refere apenas ao conhecimento dos genitais e saber de onde vêm os bebês, mas também aos conceitos de autoproteção, sentimentos, identidade, consentimento, integridade corporal e tipos de toques que adultos estão autorizados ou não em relação ao corpo da criança e do adolescente.

Saber a hora e a melhor maneira de falar sobre sexualidade com eles é muito importante. Respeitar as fases de crescimento e o que abordar em cada uma delas pode ajudar a evitar equívocos na maneira de lidar com a questão, respeitando formas de expressão da sexualidade, sem reprimi-las, e ensinando o respeito a meninas e meninos sobre o seu próprio corpo.

Uma pesquisa publicada em 2018 no Journal of Adolescent Health (1) mostrou que crianças que têm esse canal de comunicação sobre sexualidade aberto com os pais desde a infância costumam ter uma vida sexual adulta mais segura. O importante é que a criança se sinta tranquila e não envergonhada, que confie na abertura de diálogo com os pais, que devem se ater ao que foi perguntando ou dar pequenas informações por vez, desde cedo. Vários bate-papos precisam ir acontecendo aos poucos e aproveitando pequenas brechas que, na maioria das vezes, as próprias crianças dão. Se elas não dão, a função dos pais é criar essas oportunidades com cuidado e amor.

E para os pais que já têm filhos pré-adolescentes e que ainda não conseguiram falar nada, vale uma boa primeira conversa com muita tranquilidade para corrigir essa lacuna.

Então, vamos tratar agora de como conversar com crianças sobre sexualidade de acordo com seu estágio de desenvolvimento segundo o Programa Childhook Brasil (2):

 

  • Se seus filhos têm menos de 6 anos de idade:
  1. Dê respostas simples às perguntas sobre o corpo e seu funcionamento. Os pequenos são curiosos, mas não é necessário dar muita informação de uma só vez, lembre-se que não se trata de uma única conversa. Responde de forma simples apenas ao que perguntarem. Quanto mais cedo e natural começar, melhor;
  2. Explique que meninos e meninas são diferentes e que o corpo muda conforme crescem;
  3. Dê nomes corretos dos órgãos genitais, sem inventar apelidos bonitinhos, para eles levarem a sério e não acharem que qualquer pessoa pode brincar com eles de forma fofinha (use pênis e vagina). Explique o que é privacidade, que precisam sempre deixá-los cobertos. E que podem mexer neles de vez em quando, mas só dentro de seus quartos e com a mãozinha limpa. A masturbação infantil é natural se é eventual. Se ficar muito intensa, procurar a ajuda de um especialista;
  4. Conte que os bebês vêm da barriga das mães e, após os 4 anos, fale sobre o processo de nascimento de forma natural;
  5. Fale sobre a diferença entre toques aceitáveis (que são agradáveis e bem-vindos) e toques inaceitáveis (desconfortáveis, indesejados ou doloroso). Diga que seu filho tem o direito de dizer “não” toda vez que não se sentir à vontade para ser tocado, inclusive quando parentes e amigos quiserem dar beijos, abraços ou pegar no colo, tocar em partes íntimas (a não ser para cuidar ou limpar), guardar segredos ou tentar levá-lo para outro lugar, quando seu filho deve correr e contar para os pais, professor, vizinho, policial ou outro adulto de confiança.
  6. Explique que abuso sexual nunca é culpa da criança, e que se acontecer ele deve contar o mais rápido possível aos pais ou adulto de confiança. Alguns livros desenvolvidos por pedagogos, psicólogos e educadores sexuais abordam o tema da prevenção ao abuso sexual infantil de forma leve e didática:

- ‘Pipo e Fifi’, da educadora sexual Caroline Arcari;

- ‘Não me Toca seu Boboca’, de Andrea Taubman;

  1. Nessa idade, nem é recomendado que seu filho tenha acesso a celulares, pois não faz bem à sua formação neuropsicológica, mas se ele tiver acesso a eletrônicos, tenha certeza do  tipo de conteúdo que ele vê. Os algoritmos enviam vídeos chamativos para prender a atenção e, se as crianças assistem, passarão a receber muitos mais de igual teor. Muito cuidado! Não conseguimos apagar da memória de nossos filhos uma imagem indevida;
  2. Mostre que seu filho pode confiar em você e que pode te contar tudo sem medo, que você sempre estará aberto a ouvi-lo e que ele não precisa manter nenhum segredo escondido de você. Esse vínculo de confiança para assuntos de sexualidade tente a se perpetuar para o resto da vida!
  • Se seus filhos têm entre 7 e 12 anos de idade:
  1.  Não fique indefinidamente esperando seu filho perguntar, pois hoje ele tem a internet e não podemos delegar a educação deles ao google, não é mesmo? Se ele perguntar, aproveite. Se não perguntar nada, nunca, chame-o para uma primeira conversa antes dos 9 anos de idade e crie abertura para todas as outras;
  2. Comece falando sobre as mudanças da puberdade, o que ele ou ela podem esperar disso e como lidar com elas (as mudanças físicas e emocionais que estão por acontecer, como a primeira menstruação e o aumento dos seios, nas meninas; e as primeiras ejaculações sem coito, o aumento do pênis e a mudança de voz, nos meninos);
  3. Dê noções básicas sobre reprodução, gravidez e parto, eles verão reprodução em Ciências na escola por volta dos 9 ou 10 anos, então ter tudo explicado de casa é muito melhor, cria confiança nos pais. Explique a relação sexual como um comportamento de união dos corpos de quem se ama com muita naturalidade, e a formação da vida pela junção do óvulo e do espermatozoide como algo muito bonito e perfeito;
  4. Explique a diferença entre sexo biológico, orientação sexual e identidade de gênero. São 3 sexos biológicos possíveis (masculino, feminino e intersexual ou hermafrodita).​​​​​​
    • A orientação afetivo-sexual diz respeito a quem a pessoa vai direcionar seus afetos e desejos. Normalmente, os indivíduos só vão reconhecer qual é sua orientação próximo à puberdade: se é hetero, homo ou bissexual. Lide com naturalidade, pois se trata realmente de algo natural, enfatize a necessidade do respeito pela orientação de cada um e que não é uma questão de opção, pois isso está bem confuso hoje em dia: é uma orientação, faz parte de quem somos, e não uma experimentação. A homossexualidade não é uma doença física nem um desvio de personalidade, mas uma orientação natural.

      Já sobre identidade de gênero: é como a pessoa se sente, independente da anatomia, e como prefere ser representada na sociedade. A pessoa é cisgênero quando se identifica psicologicamente e socialmente com o sexo biológico. Pode ser uma pessoa transgênero (quem não se reconhece no gênero que recebeu ao nascer), gênero não binário (quando a identidade não é representada apenas pelo duo homem/mulher), agênero (quem não se identifica com gênero algum), além de outras nomenclaturas. Esse assunto também dá bastante confusão na mente dos pequenos, eles confundem modismos com a identidade social que ainda está sendo formada, então muita abertura e tranquilidade para orientar sem tolher;​​​​​​

  5. Dê informações de como se manter seguro e como estabelecer limites pessoais quando conversar ou conhecer pessoas pela internet e exerça o controle parental sobre os conteúdos digitais que seu filho consome.  Muitos transtornos sexuais e vícios em pornografia nascem nessa idade, pelo consumo impróprio de conteúdo;
  6. Explique que o abuso sexual não necessariamente tem que envolver o toque; coações, chantagens, assédios verbais ou digitais também podem acontecer. O livro ‘O Segredo de Tartanina’, das psicólogas Alessandra Rocha Santos Silva e Sheila Maria Prado Soma e Cristina Fukumori, tratam disso de forma elucidativa e podem te ajudar;
  7. Mostre como ele pode confiar em você, reconhecer e evitar situações sociais de risco, online ou presenciais, e pedir ajuda ou denunciar!

Se seu filho já tem mais de 12 anos de idade, o próximo artigo do blog trará dicas específicas para conversar sobre educação sexual com adolescentes.

Toda criança tem direito à informação de qualidade e proteção. Os pais têm mais condições de avaliar o amadurecimento da criança para dar uma educação mais personalizada. O problema é que nem todos estão dispostos ou preparados para a tarefa. Quanto antes você abrir esse canal de diálogo sobre sexualidade com seus filhos, mais fácil será lá na frente.

 

Até a próxima!

Cuide-se bem, sempre!

 

  1. https://www.jahonline.org/article/S1054-139X(18)30284-2/fulltext
  2. https://www.childhood.org.br/

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Carina Roma é Psicóloga Clínica, Neuropsicóloga e Especialista em Dependências Tecnológicas. Atua há 16 anos como Psicoterapeuta de jovens e adultos e Orientadora de Pais e Educadores. Conta com mais de 10 mil horas de atendimento a clientes de mais de 10 países. É casada há mais de vinte anos e tem três filhos, dois deles biológicos que hoje são adolescentes – Artur e Henrique - e uma do coração, na verdade sua irmã Natália que tem Síndrome de Down, mas que é considerada como filha querida desde que passou aos seus cuidados. Seu principal foco de trabalho é ajudar a melhorar a saúde mental e emocional das pessoas na nova era digital.